Com falta de suprimentos causado pelo bloqueio da entrada de ajuda humanitária no território, cozinhas comunitárias de Gaza vêm fechando e, segundo a ONU, cerca de 10 mil casos de desnutrição aguda entre crianças foram identificados só este ano. Menina chora enquanto aguarda que panela seja preenchida com alimento em Gaza
Eyad BABA / AFP
Com a Faixa de Gaza devastada pela guerra, milhares de pessoas, inclusive crianças, vão todos os dias às cozinhas solidárias montadas pelo território na esperança de conseguir comida para suas famílias.
No entanto, com quase dois meses de bloqueio da entrada de ajuda humanitária no território, muitas delas vêm fechando e nas que seguem funcionando as filas para conseguir alguma comida são cada vez maiores.
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Nesta quarta-feira (30), no campo de refugiados de Nuseirat, no centro do enclave, o cenário era de caos. Homens, mulheres e crianças, com panelas, vasilhas e até latas nas mãos, tentavam levar qualquer alimento.
Yusef al-Najar, de 10 anos, um dos que estavam entre a multidão, falou à agência de notícias AFP:
“As pessoas se empurram com medo de perder a vez. Crianças pequenas caem. Às vezes, no meio do caos, a panela escorrega das minhas mãos e a comida se espalha pelo chão. Volto para casa de mãos vazias… e essa dor é pior que a fome”, conta ele, que perdeu o pai na guerra e agora é o responsável pela mãe e a irmã.
Os suprimentos estão cada vez mais escassos. Na sexta-feira (25), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, um dos principais fornecedores de ajuda alimentar em Gaza, disse que enviou suas “últimas reservas de alimentos” para as cozinhas solidárias.
ONU e países árabes condenam bloqueio de ajuda para a Faixa de Gaza
Amjad Shawa, diretor da Rede de ONGs Palestinas (PNGO) em Gaza, afirma que as cerca de 80 cozinhas ainda ativas no enclave devem fechar suas portas em quatro ou cinco dias.
Diante da escassez de farinha, do fechamento das padarias e do aumento dos preços dos alimentos básicos, esses lugares se tornaram a única fonte de alimento para dezenas de milhares de moradores de Gaza.
Aida Abu Rayala, de 42 anos, que teve a casa destruída por um bombardeio e agora vive com a família em uma barraca improvisada, conta que já voltou para casa de mãos vazias após mais de três horas de espera para conseguir comida.
“Voltei para casa de mãos vazias. Meus filhos choraram (…) e naquele momento, desejei morrer para não vê-los passar fome novamente. Não tem farinha, não tem pão, não tenho como alimentar meus filhos. Passamos horas em pé, sob o sol escaldante e, às vezes, no frio congelante”, lamenta.
Multidão se aglomera para buscar comida em cozinha comunitária em Gaza
Eyad BABA / AFP
Na cozinha comunitária Al-Salam Oriental Food, na Cidade de Gaza, Salah Abu Haseera contou à agência de notícias Reuters, nesta terça-feira (29), que estava oferecendo o que temia ser uma das últimas refeições para as 20 mil pessoas que ele e seus colegas atendem diariamente:
“Enfrentamos grandes desafios para continuar funcionando. Podemos ficar fora de operação em uma semana, ou talvez menos”.
De acordo com um relatório do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, cerca de 10 mil casos de desnutrição aguda entre crianças foram identificados em Gaza – incluindo 1.600 casos de desnutrição aguda grave – desde o início de 2025.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo governo do grupo terrorista Hamas, afirma que pelo menos 60 mil crianças estão agora apresentando sintomas de desnutrição, além de “mulheres grávidas e lactantes que têm dificuldades para amamentar, pois elas mesmas estão desnutridas ou têm uma ingestão muito insuficiente de calorias”.
O escritório de mídia do governo do Hamas disse, na sexta-feira (25), que a fome não é mais uma ameaça iminente em Gaza e está se tornando uma realidade, e que 52 pessoas já morreram devido à fome e à desnutrição, sendo 50 delas crianças.
Homem serve massa em lata para menino palestino em busca de comida
Eyad BABA / AFP
Israel, que impôs o bloqueio da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza no dia 2 de março, nega que Gaza esteja enfrentando uma crise de fome e diz que ainda há ajuda suficiente para sustentar a população do enclave.
Os militares israelenses acusam os militantes do Hamas de explorar a ajuda, o que o Hamas nega, e diz que deve manter todos os suprimentos fora do país para evitar que os combatentes os recebam.
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Fonte: G1
Fome em Gaza: palestinos fazem fila por comida em campo de refugiados
