Samir Xaud, 41, ainda não fala como presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mas isso é apenas uma questão de tempo para o médico, eleito recentemente para comandar o futebol de Roraima a partir de 2027, sucedendo seu pai, Zeca Xaud, à frente entidade roraimense desde a década de 1980.
Nome até então desconhecido no cenário nacional, Samir conseguiu reunir em torno de si o apoio de 25 das 27 federações estaduais existentes, o que inviabiliza a tentativa de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), de concorrer à cadeira na CBF.
Pelo estatuto da entidade máxima do futebol brasileiro, para formalizar uma chapa, um candidato precisa ter, no mínimo, o apoio de oito federações. Apenas São Paulo e Mato Grosso não se juntaram ao bloco de Samir.
‘’É um processo democrático, de acordo com o estatuto vigente da CBF, que a gente segue’’, afirma em entrevista à Folha.
Dessa forma, o médico de Roraima será candidato único na eleição marcada para o próximo dia 25. A data foi determinada por Fernando Sarney, um dos vice-presidentes da entidade, nomeado interventor na confederação após o vácuo deixado por Ednaldo Rodrigues, 71, afastado da presidência por decisão da Justiça do Rio de Janeiro, na última quinta-feira (15).
Próximo de ser o presidente da CBF, com um mandato de 2025 a 2029, Samir Xaud afirma que sua chegada representa uma ‘’ruptura’’ política na entidade mesmo sendo alçado ao cargo pelas mesmas federações que davam amplo apoio a Ednaldo.
Ele também defende sua experiência como gestor a despeito da pouca expressão futebol de Roraima nas divisões de elite, afirma que são ‘fake news’ às acusações de que ele teria sido afastado do cargo de perito médico por dois anos por um erro técnico e diz que foram arquivadas as denúncias segundo as quais ele teria feito parte de um esquema de corrupção enquanto comandava o Hospital Geral de Roraima.
O senhor vem de uma federação que tem pouca expressão futebol nacional, sem clubes nas Séries A e B. Como pretende demonstrar que tem preparo e visão para comandar a CBF?
Na verdade, por eu ser do extremo norte, isso não quer dizer que eu não tenha a capacidade de gerir uma instituição. São coisas distintas, diferentes. Eu não preciso ter um clube na Série A para poder gerir alguma empresa, alguma instituição. Esse é o primeiro ponto. E capacidade de gestão eu tenho porque eu tenho experiência de gestão, gestão pública, na minha vida pública de 12 anos, como médico, pelos cargos que já assumi, já passei.
O sr. também trabalhou junto com o seu pai na Federação Roraimense e o seu pai está na federação há um pouco mais de quatro décadas. Isso é visto como um ciclo de pouca renovação na entidade. Isso não o impede de representar uma renovação para a CBF?
Não, até porque nos dois últimos mandatos que venho participando dentro da Federação Roraimense a gente viu uma evolução muito grande do futebol roraimense e do campeonato estadual.
Mesmo com todo esse tempo, mais quatro décadas de poder, o sr. não considera que há um ciclo de pouca renovação na Federação?
Não, são tempos diferentes. No tempo que meu pai foi presidente não tinha recursos necessários para desenvolver o futebol no estado. Então o futebol era ajudado somente pela CBF, com pouco recurso, e não tinha iniciativa privada, então a federação era tocada justamente com pouco recurso que a CBF mandava.
Nesses mandatos mais recentes o senhor conseguiu mudar esse cenário?
Conseguimos. Agora a gente tem um campeonato robusto. Eu consegui atrair as empresas privadas para patrocinar o nosso evento. Conseguimos fazer a comercialização das placas de publicidade. Consegui vender o nome do campeonato. Então a gente tá conseguindo fomentar o futebol agora no estado de Roraima.
Seu apoio vem majoritariamente de presidentes das federações estaduais. O sr. conseguiu o apoio de 25 federações, o que inviabiliza a candidatura do presidente da Federação Paulista. Em contrapartida, o senhor não tem o apoio maciço dos clubes, principalmente das Séries A e B. Como vê as críticas sobre o sistema eleitoral da CBF que privilegia federações em detrimento dos clubes?
Acho que é um processo democrático, de acordo com o estatuto vigente da CBF. Mas em relação ao apoio da totalidade dos clubes, a gente sabe da relação estreita que o presidente Reinaldo tem com os clubes da Libra e da LFU. Mas a gente conseguiu o apoio de dez clubes, quatro de série A, seis de série B, que são clubes que conhecem do meu trabalho, sabem da intenção que eu tenho de mudar o futebol brasileiro e acreditaram nesse projeto.
O que significa para o senhor ter o apoio dessas 25 federações?
É muito importante, é uma confiança, me passa credibilidade. Acredito que esse apoio é importantíssimo. Acreditaram no projeto que nós temos de mudança e renovação da CBF e essa união é necessária para que a gente dê uma instabilidade institucional por conta de tudo que está acontecendo hoje dentro da CBF.
Recentemente, o presidente Ednaldo Rodrigues foi eleito numa eleição por aclamação, sem concorrentes, e muitos desses presidentes de federações que estão hoje com o senhor votaram nele. O sr. considera que, por isso ter acontecido num espaço tão curto de tempo, o sr. consegue representar uma ruptura na CBF?
Na verdade é uma ruptura de pensamentos, de ideias. O que a gente quer é fazer uma gestão diferente, uma gestão moderna. E como tinha essa estabilidade jurídica, em relação ao judicial que estava acontecendo com o ex-presidente Ednaldo, nós precisávamos ter uma opção. Então, inicialmente, 19 federações se reuniram e colocaram na mesa alguns nomes possíveis para serem os escolhidos para comandar a CBF. No caso, o meu nome também estava no meio e por perfil acabei sendo escolhido.
O que foi determinante para ser escolhido? O que o seu perfil tinha de diferente dos outros que estavam na mesa?
Comunicação, diálogo com todos e um cara que consegue agregar, um pacificador e com experiência em gestão.
Pegando o gancho nessa última palavra, gestão, em 2013, o senhor teria sido suspenso por dois anos das funções como perito médico, na ocasião por um erro técnico. O que aconteceu nesse episódio?
Não, isso são notícias equivocadas, fake news, que divulgam porque eu estava concorrendo a um pleito eleitoral em uma cadeira que é muito disputada.
O senhor também é acusado de ter feito parte de um esquema de desvio de dinheiro enquanto era diretor-geral do Hospital Geral de Roraima. Cerca de R$ 1,4 milhão teria sido desviado dos cofres do hospital por meio de pagamentos simulados. Como o senhor se defende dessa acusação.
Quando você assume um cargo de gestão pública, está sujeito a todas as coisas. O que houve foi uma tentativa de colocar o meu nome dentro de um processo, porque eu era diretor do HGR (Hospital Geral de Roraima), só que eu não era ordenador de despesas. O ordenador de despesas era a Secretaria de Saúde. Então, por uma questão política da oposição, tentaram arrolar meu nome, mas esse processo já foi arquivado. Nada foi comprovado. O processo inteiro foi arquivado.
O senhor não tem registros defendendo publicamente o combate à corrupção. O senhor pretende assumir esse compromisso como presidente da CBF?
Com certeza. A gente tem que combater isso, a gente tem que fazer uma gestão transparente e é o que a CBF precisa hoje.
Pretende abrir mão da gestão do Campeonato Brasileiro das Séries A e B, principalmente se a Libra e a LFU se organizarem para organizar a competição?
Sim, esse é o projeto. Está dentro do nosso plano de trabalho. Fazer com que a liga saia do papel. Isso aí vai depender do diálogo com os clubes, com as ligas, para nós podermos ver se esse projeto sai definitivamente do papel.
Por isso não saiu até o momento?
Eu acredito que os próprios clubes não chegaram a um consentimento em conjunto e sem o apoio da CBF.
Na sua candidatura, o senhor fala em descentralizar o poder na CBF. Na prática, o que isso significa? Quais são as mudanças administrativas e estatutárias que seriam feitas para descentralizar esse poder?Dar autonomia para os cargos da estrutura institucional, descentralizar o poder. Dar poder às pessoas, para os seus cargos que estão abaixo de você, executar o trabalho.
Para eleições futuras, o senhor pretende trabalhar para renovar o estatuto da CBF de forma que os clubes possam ter o mesmo peso das federações?
O estatuto vai ser revisto, a gente vai sim fazer algumas alterações, mas isso depende de todos os participantes. Isso não é uma decisão única, exclusiva do presidente da CBF. Todos os envolvidos têm que fazer parte dessa escolha e das mudanças.
Com o apoio que o senhor tem, já se sente presidente da CBF?
Na verdade, só a partir de segunda-feira, dia 26.
Pretende manter o contrato com o Carlo Ancelotti para comandar a seleção brasileira?
Sim, é o maior técnico internacional hoje. É uma referência. Nós vamos sim manter ele no comando da seleção brasileira. E o que a CBF vai fazer é dar autonomia a ele.
noticia por : UOL