“Hoje rua de asfalto, internet, casarão. Antes, casa de barraco, rua de barro, orelhão”.
Assim se encerram os versos de “My Street Vilão”, música vencedora do concurso “Minha Penny Lane”, organizado pela Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA) com jovens da instituição.
O texto foi escrito por dois internos, de 17 e 18 anos, da unidade Guarulhos.
O projeto é uma parceria entre a Fundação Casa e as Fábricas de Cultura, iniciativa da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.
A canção foi gravada em estúdio profissional da Fábrica de Cultura Vila Curuçá e será disponibilizada nesta quarta-feira (21) no canal do YouTube do projeto.
O concurso foi inspirado na música “Penny Lane”, dos Beatles, que retrata memórias de infância de Paul McCartney e de John Lennon sobre uma rua de Liverpool, na Inglaterra.
Mais de 180 adolescentes de 20 centros da Fundação Casa escreveram redações sobre seus bairros de origem, descrevendo o cotidiano, personagens e transformações de seus territórios.
A letra vencedora narra histórias de moradores locais, como o barbeiro que “antes era vida loka” e hoje está “tranquilo, casado e tem dois filhos”. Também descreve um bairro que já teve “corpo jogado na esquina”.
O autor de 18 anos de “My Street Vilão” diz que não conhecia a canção dos Beatles, mas que a música “passa uma mensagem boa”.
“É bom lembrar do passado, das caminhadas. Vai servir pra você no futuro”.
Ele afirma que já escrevia músicas antes do concurso, para “descontar a neurose”.
“Senti um descarrego [gravando a música]. Eu desconto nas músicas o que passo no dia a dia”, conta.
A premiação ocorreu em 24 de abril, com cerimônia virtual onde os cinco melhores textos foram apresentados. A gravação da música é parte do prêmio oferecido aos vencedores do primeiro lugar.
Veja a letra completa de “My Street Vilão”:
“Eu sentado na calçada espairecendo minha mente. Percebi ao meu redor que minha rua tá diferente. Tá mais calma e atraente, não como antigamente. Não tem mais corpo jogado na esquina, um indigente.
Todo mundo por aqui tá buscando mudar de vida. No final da minha rua tem uma barbearia. Ela é do meu parceiro que corta vários cabelos, antes era vida loka [sic] mas viu que não é desse jeito. Hoje em dia tá tranquilo, tá casado e tem dois filhos. Quem diria, o Juninho tá fiel com Jesus Cristo.
Do lado do salão dele tem uma loja de pipa. Ela é do Alemão, outro brother das antigas. Faz vários campeonatos, quando tem e ’mó folia’ [sic]. As ruas de cima vêm, nós corta, apara e faz a limpa [sic].
Não posso esquecer do mercadinho da Tia. Foi várias fita fiado [sic] pra pagar no outro dia. Lembra do bar do seu Zé onde tudo acontecia, tinha funk, arrastapé, sinuca brigava todo dia [sic].
Lembrei do jogo do bicho que apareceu pro seu Chico. Quando ele viu o porco ele gritou “eu tô rico”. Foi cachaça a noite toda de graça pra rua toda. A mulher dele brigou e acabou com aquela zorra.
Nesse bar foi várias fita [sic], mistura de sentimento. Uns bebem pra se alegrar, outros pra congelar o tempo. Vários acontecimentos que eu vou levar de exemplo, vou viver esse momento aproveitando enquanto é tempo.
Hoje rua de asfalto, internet, casarão. Antes, casa de barraco, rua de barro, orelhão. É my street vilão.”
com KARINA MATIAS, LAURA INTRIERI, MANOELLA SMITH e VICTÓRIA CÓCOLO
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noticia por : UOL