A proibição das drogas é racista? Muitas instituições ligadas à esquerda parecem acreditar que sim. No entanto, esse argumento carece de respaldo histórico e contradiz dados recentes, que indicam que a maioria das minorias rejeita essa visão.
Políticas e leis são instrumentos destinados a estabelecer a ordem social. Como qualquer ferramenta, podem ser mal utilizadas. As primeiras leis antidrogas na América do Norte, datadas do final do século XIX e início do século XX, provavelmente foram motivadas pelo desejo de criar pretextos legais para assediar imigrantes asiáticos, especialmente em relação ao consumo de ópio. Contudo, dificilmente alguém argumentaria, hoje, que leis contra invasão de domicílio, homicídio ou roubo são “racistas” apenas porque, em determinados momentos, tenham sido aplicadas de maneira discriminatória. Sem evidências concretas, afirmar que “esta ferramenta às vezes é usada de forma racista” implica que “esta ferramenta é essencialmente racista” revela-se um raciocínio simplista.
Ainda assim, é exatamente esse o salto lógico que diversas instituições e grupos ativistas têm feito em todo o mundo ocidental. A Drug Policy Alliance, organização norte-americana dedicada à reforma das políticas de drogas, sugere que a proibição das drogas está enraizada no “racismo e no medo”. A Harm Reduction International, ONG britânica, defende a legalização com base na tese de que a criminalização das drogas reforça “hierarquias racializadas, estabelecidas sob o controle colonial e ainda predominantes”.
No Canadá — país onde resido —, a principal autoridade de saúde pública da Colúmbia Britânica, província canadense com políticas particularmente permissivas em relação às drogas, divulgou, no ano passado, um relatório pró-legalização, afirmando que a proibição se baseia “em um histórico de racismo, supremacia branca, paternalismo, colonialismo, classismo e violações de direitos humanos”.
Sociedades não-ocidentais têm histórico de proibição de drogas
Essas alegações, contudo, ignoram o fato de que a proibição das drogas foi — e continua sendo — popular em muitas sociedades não ocidentais. A sharia, código legal islâmico, proíbe o uso de substâncias psicoativas desde o século VII.
Quando líderes indígenas negociaram tratados com colonos canadenses, no final do século XIX, solicitaram expressamente a “exclusão da água de fogo (uísque)” de suas comunidades.
Na mesma época, o Império Qing, na China, proibiu o ópio em meio a uma grave crise de dependência. “O ópio é um veneno que mina nossos bons costumes e nossa moralidade”, escreveu o imperador Daoguang em um decreto de 1810.
Atualmente, muitas jurisdições asiáticas e muçulmanas impõem penas significativamente mais severas aos crimes relacionados a drogas do que as nações ocidentais. Países como China, Arábia Saudita, Irã, Cingapura e Tailândia aplicam longas penas de prisão ou até mesmo a pena de morte a traficantes e usuários. Enquanto isso, no Canadá e nos Estados Unidos, políticas de descriminalização transformaram centros urbanos em locais tomados por seringas e dominados pelo consumo aberto de metanfetamina.
A crescente reação contra as drogas na América do Norte parece estar sendo liderada por minorias raciais. Quando Chesa Boudin, ex-promotor público de São Francisco, foi destituído em 2022, o apoio ao seu afastamento foi mais expressivo entre eleitores asiáticos. No outono passado, 73% dos latinos apoiaram a Proposta 36 da Califórnia — que endureceu as penas para crimes relacionados a drogas —, enquanto apenas 58% dos eleitores brancos fizeram o mesmo.
No Canadá, sinais de uma tendência semelhante emergiram nas eleições municipais de Vancouver, em 2022, quando um aparente aumento no apoio da comunidade chinesa canadense ajudou a eleger uma chapa de candidatos pró-polícia.
Em seguida, nas eleições provinciais da Colúmbia Britânica, no ano passado, eleitores não brancos demonstraram forte preferência pelos Conservadores da Colúmbia Britânica, partido que defendeu leis antidrogas mais rigorosas. E, nas eleições federais recentes, candidatos conservadores que pregam um combate mais duro ao crime receberam apoio expressivo das comunidades do sul da Ásia, tanto na região metropolitana de Vancouver quanto na de Toronto.
Dificuldades estatísticas
Todos esses são fortes indícios de que as minorias raciais não são, de fato, unanimemente favoráveis à legalização das drogas. Entretanto, sua menor participação proporcional na população significa que há relativamente poucos dados estatísticos capazes de medir com precisão suas preferências. Como apenas 7,6% dos norte-americanos se identificam como asiáticos, por exemplo, uma pesquisa com 1.000 pessoas selecionadas aleatoriamente incluiria, em média, apenas 76 entrevistados asiáticos — amostra insuficiente para gerar conclusões estatisticamente significativas. Superar esse obstáculo exige pesquisas de grande escala, o que eleva os custos.
Ainda assim, no último outono, o Centro Canadense para Políticas Responsáveis sobre Drogas (organização sem fins lucrativos que fundei e dirijo) realizou exatamente esse esforço. Em parceria com o Instituto Macdonald-Laurier, contratamos a empresa Mainstreet Research para entrevistar mais de 12 mil cidadãos da Colúmbia Britânica, perguntando: “Você concorda ou discorda que criminalizar as drogas é racismo?”
Os resultados desafiam frontalmente as premissas progressistas. Apenas 26% dos entrevistados não brancos concordaram (total ou parcialmente) que a criminalização das drogas é racista, enquanto mais do que o dobro (56%) discordaram. A proporção dos que discordaram totalmente foi três vezes maior do que a dos que concordaram totalmente (43,2% contra 14,3%). Esses resultados são robustos, considerando o tamanho da amostra: 2.233 entrevistados não brancos, com margem de erro de apenas 2%.
Notavelmente, os entrevistados indígenas pareceram ser o grupo mais contrário à descriminalização: apenas 20% concordaram (total ou parcialmente) com a ideia de que “a criminalização é racista”, enquanto 61% discordaram. Novamente, a intensidade da discordância foi muito superior à da concordância. Com uma amostra de 399 entrevistados, a margem de erro, de 5%, não compromete esses resultados expressivos.
Observamos padrões semelhantes entre outros grupos minoritários — como sul-asiáticos, sudeste-asiáticos, latinos e negros. Embora entrevistados do Oriente Médio também tenham indicado tendência semelhante, o número de participantes desse grupo foi insuficiente para conclusões estatisticamente sólidas. Apenas os leste-asiáticos mostraram-se mais divididos, embora, ainda assim, a maioria tenha discordado da ideia de que a criminalização seja racista.
Como a pesquisa se restringiu à Colúmbia Britânica, não é possível afirmar que os resultados sejam automaticamente aplicáveis ao Canadá como um todo, tampouco aos Estados Unidos. No entanto, como a província é, possivelmente, a jurisdição mais permissiva em relação às drogas em ambos os países, esses resultados podem representar o limite superior das atitudes pró-legalização e anticriminalização entre comunidades minoritárias.
Os defensores da legalização e seus aliados progressistas orgulham-se de serem “antirracistas”. Contudo, nossas pesquisas indicam que eles podem não estar ouvindo as próprias comunidades que afirmam representar.
Adam Zivo é diretor do Centro Canadense para Políticas Responsáveis sobre Drogas.
©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: The Left Thinks Drug Criminalization Is Racist. Minorities Disagree
noticia por : Gazeta do Povo