Em sua nona edição, a primeira desde 2022, o Popload Festival voltou com uma proposta que parece ter funcionado bem: as quatro principais atrações no palco montado no parque Ibirapuera foram cantoras.
Seguindo o DNA do festival, que sempre transitou entre novidades do pop e veneração de nomes consagrados, cada uma representou um estágio diferente em suas carreiras. E a escalação de Norah Jones para fechar a noite se mostrou uma boa jogada.
Nos três shows que a antecederam, as cantoras mostraram um repertório que surpreendeu o público várias vezes. Combinando influências, a ex-Sonic Youth Kim Gordon, a revelação de jazz-bossa nova Laufey e a roqueira experimental St. Vincent são tão ecléticas que é difícil antecipar o que vão fazer no palco.
Norah Jones é diferente. O público sabe o que esperar dela e normalmente fica bem satisfeito com o que acaba ouvindo. Ela faz um blend de jazz, blues, rock e pop, mas usa sua voz incrível e um ótimo domínio do piano para conduzir essa mistura dentro de um ambiente de clube de jazz nova-iorquino.
Assim, ter para fechar a noite uma atração com público fiel foi bom para segurar a plateia num dos dias mais frios do ano em São Paulo.
Aos 46 anos, a cantora e compositora americana é um caso raríssimo de artista que começou a carreira no topo. Seu álbum de estreia, “Come Away with Me”, levou oito estatuetas do Grammy na premiação de 2004.
Ela atravessou os últimos 22 anos fazendo sucesso. É praticamente uma missão impossível encontrar uma crítica negativa sobre algo que ela tenha lançado. Uma trajetória tão tranquila e enaltecedora acabou transformando Norah Jones em uma artista completamente segura no palco.
Tão segura que ela nunca repete o mesmo set list duas vezes seguidas, e decide o que vai apresentar no dia do show. Para esta sua quarta vinda ao
Brasil, ela segurou seus habituais covers inesperados, porque o show no festival é meia hora mais curto do que um concerto dela em uma noite solo.
Muito do repertório foi destinado a canções de seu último álbum, “Visions”, lançado do ano passado e que em fevereiro deu a ela mais um Grammy. As letras são um pouco tristonhas, talvez ainda reflexo da pandemia, mas no show do Popload ela compensou isso com o resgate de algumas canções antigas mais vigorosas.
Assim, ela consegui conduzir a atenção do público o tempo todo. E existe algo curioso no estilo de tocar de Norah Jones. Sentada ao piano, ela deixa claro uma certa influência de uma música country de raiz que ela adora, de nomes como Johnny Cash.
Por isso, às vezes o som do teclado fica um pouco “sujo”, numa execução mais nervosa. Dessa maneira, ela lembra um pouco os pianos de honk tonk, martelados por músicos que tocam peças aceleradas e alegres em espeluncas de beira de estrada nos Estados Unidos.
Numa avaliação do desempenho de todas as atrações do festival, algo que é muito difícil de evitar, ficou claro que a islandesa Laufey arrebatou mais corações e mentes na plateia, mas Norah Jones é uma artista fenomenal, com controle total do palco.
E, muito esperta, ela chamou Laufey para dividir vocais na parte final do show. Um bom fechamento para a volta do Popload Festival ao calendário paulistano.
noticia por : UOL