Lula faz o jogo que lhe é conveniente — quem desviaria água para o moinho do adversário? — ao relegar a oposição ao extremismo de direita. Vai aqui uma pergunta: ele tem motivos objetivos para fazê-lo? Cadê a direita não bolsonarista? Cadê as lideranças que se opõem ao presidente, ao petismo, ao progressismo — chamem como quiserem —, mas que repudiam o golpismo de Bolsonaro? Cadê, em suma, a direita democrática? Até agora, ela não apareceu para o jogo.
No evento, Lula exaltou Hugo Motta, presidente da Câmara:
“Eu considero você uma novidade na política brasileira. Independente do partido a que você pertence, teu comportamento e tua eleição como presidente da Câmara é demonstração que, dentre tantas coisas ruins que vivemos, começam a acontecer coisas boas”.
Motta pertence ao Republicanos, uma das legendas de direita que tem um pé no governo — comanda o Ministério dos Portos e Aeroportos, com Silvio Costa Filho — e outro na oposição. Abriga Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, o sonho de consumo “duzmercáduz” e de parte considerável do empresariado, do agro e da mídia. Há um esforço danado para vê-lo como um bolsonarista moderado e um gestor ímpar. Ocorre que ele não pode lastimar a escuridão ideológica de seu guia por duas razões: 1) porque comunga de seus postulados, o que deixa claro na prática; 2) porque isso enterraria a chance de se lançar candidato.
Se os potenciais adversários de Lula não abrem mão da vassalagem a Bolsonaro, convenham: é razoável que o presidente se coloque como “a” alternativa à extrema direita porque, com efeito, ele passa a monopolizar essa condição.
O SENADO
Em seu discurso, o presidente chamou a atenção para a composição do Senado. Não só ele, diga-se. Também Bolsonaro considera a composição da Casa essencial para os seus propósitos. Sonha com o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. Disse Lula:
“Precisamos eleger senadores da República em 2026. Por que, se esses caras elegerem a maioria dos senadores, eles vão fazer uma muvuca nesse país. Não quero dar lição para ninguém. Mas temos que pensar onde é impreterível, onde é necessário mesmo ter candidato a governador. Para o Brasil, temos que pensar onde é necessário eleger senador. Precisamos ganhar maioria no Senado, senão esses caras vão avacalhar a Suprema Corte. Não é porque a Suprema Corte é uma maçã doce. Não. É porque precisamos preservar as instituições que garantem o exercício da democracia nesse país. Se a gente for destruir o que a gente não gosta, não vai sobrar nada.”
Faz sentido. Observem que há um recado a seu próprio campo político. Lula está, na verdade, a dizer que a política de alianças deve privilegiar mais o Senado do que os respectivos governos dos Estados. É o sensato.
noticia por : UOL