O poder da China é um vírus

Quando uma nação é responsabilizada por mais de sete milhões de mortes em todo o mundo, o que governo americano pretende fazer?

Mais de 1,2 milhão de norte-americanos morreram em decorrência de uma praga que começou na China.

Esses números alarmantes — tanto globais quanto norte-americanos — são os registrados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Eles fazem da pandemia de COVID-19, indiscutivelmente, o evento mais mortal que a humanidade enfrentou desde a Segunda Guerra Mundial.

A presença do Instituto de Virologia de Wuhan na cidade onde o flagelo se originou levantou suspeitas desde o início: teria sido um desastre não natural?

Pesquisadores chineses estudavam coronavírus naquele laboratório, conduzindo pesquisas de “ganho de função” — tipo de experimento que frequentemente torna patógenos mais infecciosos e letais.

No entanto, grande parte da imprensa norte-americana descartou de forma reflexa qualquer possibilidade de vazamento laboratorial, classificando-a como uma teoria da conspiração, nascida de paranoia racista.

Essa rotulagem, porém, não silenciou a discussão.

Na verdade, ouvir algumas das mesmas organizações que apostaram sua credibilidade nas garantias sobre a aptidão física e mental de Joe Biden para exercer a presidência insistirem que a hipótese de um vazamento laboratorial seria apenas uma teoria conspiratória deixou muitos norte-americanos ainda mais determinados a fazer as perguntas que lhes dizem para não fazer.

Agora, o governo Trump se manifestou, lançando no mês passado uma nova página oficial intitulada “Vazamento de Laboratório: As Verdadeiras Origens da COVID-19” (Lab Leak: The Real Origins of COVID-19).

Se o presidente Donald Trump acredita que experimentos conduzidos pela China são responsáveis por mais de um milhão de mortes nos Estados Unidos, até que ponto ele estaria disposto a adotar uma postura firme contra Pequim?

Ele estaria preparado para punir outras nações pelo preço que suas estratégias comerciais impuseram aos Estados Unidos?

A China também é a maior infratora nesse aspecto, mas o custo da COVID-19 foi incalculavelmente maior — não apenas em termos de riqueza nacional, mas, sobretudo, em vidas humanas.

O presidente impôs tarifas elevadas sobre produtos chineses no chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril. Se “libertação” significava algo, deveria significar libertar os Estados Unidos das garras econômicas de Pequim.

No entanto, desfazer a relação comercial entre China e Estados Unidos é difícil e doloroso; e, com Wall Street em estado de agonia, Trump recuou, reduzindo as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30% pelos 90 dias seguintes, depois de já ter criado exceções para bens como smartphones e computadores.

Atualmente, a China encontra-se economicamente vulnerável, com mais indústrias se transferindo para países vizinhos, onde os salários são mais baixos — como Índia e Vietnã.

Trump dispõe das ferramentas para alterar o papel da China na economia mundial, impedindo que ela se torne tão central para o sistema global a ponto de nenhuma nação poder responsabilizá-la pelo próximo horror que venha a emergir de seus laboratórios ou cavernas — no que é, historicamente, conhecido como o “Império do Meio”.

Em vez de aliviar as tarifas sobre a China, o governo deveria colocar Pequim em desvantagem comparativa e priorizar o alívio tarifário para as nações em desenvolvimento que são rivais emergentes da China — e, em muitos casos, seus vizinhos cautelosos.

Medidas punitivas contra a economia chinesa não trarão de volta as vítimas da COVID-19, é claro.

Mas suas vidas não devem ser esquecidas, e há uma dimensão moral na contenção da China, além das dimensões estratégicas e econômicas.

As acusações morais contra o Partido Comunista Chinês são avassaladoras muito antes da era da COVID-19: o partido é responsabilizado, ao longo de décadas, pela morte de dezenas de milhões de chineses e pela opressão contínua de bilhões, sem falar na ocupação do Tibete e nos tormentos brutais infligidos aos uigures — minoria étnica muçulmana —, a outras minorias e a dissidentes políticos.

Nada dessa criminalidade impediu o restante do mundo, inclusive sucessivos governos norte-americanos equivocados, de aceitar a China como um parceiro indispensável no comércio, promovendo a ascensão do regime comunista ao status de superpotência — um aspirante à hegemonia regional, com postos avançados e colônias econômicas espalhadas por todo o globo.

No entanto, o mundo inteiro sentiu o impacto da COVID-19, e se essa experiência devastadora não mudar a forma como a comunidade internacional lida com os riscos representados pela China, novos episódios trágicos poderão ocorrer.

Nada foi capaz de conter a peste que começou na China há cinco anos, mas uma guerra que poderia se mostrar ainda mais letal pode ser evitada com medidas sábias adotadas desde já.

Isso significa tomar as medidas econômicas mais vigorosas possíveis para fortalecer os vizinhos que podem conter a China, ao mesmo tempo que se desfaz progressivamente a relação comercial abusiva que esvaziou as fábricas dos Estados Unidos e impulsionou as da China.

Pense nisso como o novo “distanciamento social”.

Daniel McCarthy é editor da revista Modern Age: A Conservative Review e colunista do The Spectator.

VEJA TAMBÉM:

©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: China’s Power Is a Virus

noticia por : Gazeta do Povo

sexta-feira, 6, junho , 2025 11:45
Mais previsões: Tempo 25 dias