Se gritar “Lula ladrão”/ periga ir pra prisão

Lula ladrão. Duas palavrinhas simples. Soa até poético. A língua passeia pelo céu da boca como naquele primeiro parágrafo de “Lolita”. Lula ladrão, lulaladrão, lulalá-drão. Mas dizer essas duas palavras em sequência não pode. Quer dizer, poder pode. Mas a última pessoa que disse isso, uma dona de casa, vai ser agora investigada pela Polícia Federal. Não vou me surpreender se ela acabar presa.

É isso mesmo. O Ministro da Justiça (da Justiça!) Ricardo Lewandowski mandou a Polícia Federal abrir um inquérito para investigar a conduta de uma mulher que, usando um megafone, passou perto da casa do ex-presidiário e atual presidente e gritou “Lula ladrão”. Gritou o quê? Todos: “Lula ladrão”. O quê? Todos mais uma vez: “Lula ladrão”. De novo: “Lula ladrão!”.

Uhuuuu!!!!

Não é exatamente novidade. Outro dia teve um homem que também foi levado à delegacia para prestar esclarecimentos quando gritou “Lula ladrão” para a comitiva do ex-presidiário e atual presidente do Brasil. É o que acontece num país liderado por alguém cuja honra é frágil e é frágil por um motivo. Ninguém respeita nem o homem, nem o cargo, e muito menos a instituição que ele representa.

E tudo bem, é legal pegar um megafone e gritar “Lula ladrão”. Ou gritar “Lula ladrão” quando passa a comitiva do sujeito. É divertido e, em tempos de repressão, chega a ser até uma aventura. Quase um esporte radical. Uhuuuu!!!! Mas quero aqui convidar você, leitor, e a dona de casa que gritou “Lula ladrão” (se ela estiver por aí) a pensarem um pouco no porquê desse gesto que não deveria ser tresloucado nem ousado nem nada do tipo, mas se tornou: gritar “Lula ladrão”.

Ex-presidiário

Minha pergunta nada tem de bronquinha nem de lição de moral. É uma pergunta sincera de alguém que também está revoltado, de saco cheio e até enojado com o fato de um ex-presidiário condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro, e “descondenado” por uma tecnicalidade tirada do bigode de um ministro do STF, estar ocupando a Presidência: o que leva alguém a sair de casa munida de um megafone, passar perto da casa do sujeito e gritar “Lula ladrão”?

Ainda mais nos dias de hoje! Mas sério. O que leva? Será que a dona de casa achou que o grito sensibilizaria o marido da Janja? Que ele ouviria “Lula ladrão” e pensaria, caramba, eu sou mesmo ladrão, ou fui, não posso mais continuar presidente, não dá mais, vou ter que renunciar? Ou será que ela precisava tanto assim, precisava muito, precisava demais desse momento de catarse? Alguém precisa disso tanto assim?

Tome cuidado

Qualquer que tenha sido a motivação da dona de casa que gritou “Lula ladrão”, bem como do homem que gritou “Lula ladrão”; e qualquer que seja a sua motivação para gritar “Lula ladrão”, só te peço uma coisa: tome cuidado. Não se arrisque. Ainda mais se você tem família. Não duvide jamais da possibilidade concreta de a Polícia Federal prendê-lo por gritar, dizer num tom de voz normal ou sussurrar bem baixinho “Lula ladrão”.

Até porque não vale a pena. Seu grito não vai mudar nada, assim como a repressão de Lewandowski, da PF ou do STF não mudarão nada. Lula continuará presidente e quem está com o grito de “Lula ladrão” entalado na garganta continuará vendo aquela carona feia dele e pensando “Lula ladrão”. Pelo menos enquanto for possível pensar em liberdade.

Melhor, então, é pegar uma caixinha de fósforo, abrir uma gelada, evocar o espírito zombeteiro de Bezerra da Silva (que hoje estaria preso) e cantar: “Se gritar ‘Lula ladrão’/ Periga ir pra prisão/ Se gritar ‘Lula ladrão’/ Não sobra um”.

noticia por : Gazeta do Povo

segunda-feira, 9, junho , 2025 08:00
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