Os comentários de Rosângela Lula da Silva, a Janja, com críticas ao TikTok durante encontro de Lula (PT) com o dirigente da China, Xi Jinping, não foram o primeiro episódio em que a primeira-dama foi criticada por sua atuação durante eventos internacionais.
O caso que ganhou maior notoriedade ocorreu durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado. Na ocasião, Janja insultou o bilionário Elon Musk durante um evento paralelo com a sociedade civil.
A primeira-dama discursava sobre a regulamentação das redes sociais quando houve uma interferência em sua fala. Em tom de brincadeira, ela disse: “Acho que é o Elon Musk”. Em seguida, emendou: “Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”.
Horas depois, Lula disse, sem menção direta ao episódio, que “não temos que xingar ninguém”.
O xingamento a Musk, um dos mais próximos auxiliares do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve repercussão negativa. O grupo das maiores economias industrializadas e emergentes do globo foi presidido pelo Brasil em 2024.
Além de dar munição para a oposição bolsonarista, o caso gerou dor de cabeça para diplomatas que participavam da cúpula no Rio, que reservadamente se queixaram de que o ocorrido tirava o foco das principais discussões do G20.
Além do mais, eles destacaram que naquele momento Trump já tinha sido eleito o novo líder dos EUA, de forma que os insultos contra um dos aliados do republicano poderiam colocar barreiras adicionais numa relação com o governo Lula que já se anunciava problemática.
Um ano antes, durante a reunião do G20 na Índia, Janja já tinha chamado atenção por ter sido a única primeira-dama a acompanhar as sessões dos líderes do grupo. Esses encontros são fechados ao público e à imprensa. Na ocasião, ela publicou uma mensagem nas redes sociais e destacou que Lula falava sobre igualdade de gênero, combate a desigualdade e ao racismo.
Para participar daquela sessão, Janja ignorou a programação preparada pela anfitriã da cúpula para os acompanhantes dos líderes. O grupo visitou o Instituto Indiano de Pesquisa Agrícola, depois foi à Galeria Nacional de Arte Moderna e, à tarde, teve tempo livre para fazer compras em uma exibição de artesanato.
No caso mais recente, na visita de Lula à China, Janja causou incômodo na delegação anfitriã ao falar com Xi Jinping, líder do país, sobre os efeitos nocivos da rede social TikTok.
Segundo noticiado pelo portal G1, ela teria dito que o algoritmo da rede social favorece a direita. A Folha confirmou que a intervenção de Janja gerou desconforto entre os representantes chineses.
Lula foi questionado sobre o tema em entrevista coletiva no fim da viagem. Disse que partiu dele a iniciativa de abordar com Xi a regulação do TikTok e que Janja apenas comentou o tema posteriormente.
O presidente criticou a própria delegação brasileira pelo vazamento da conversa. Ele também defendeu Janja. “O fato de minha mulher pedir a apalavra é porque ela não é uma cidadã de segunda classe. Ela entende mais de rede digital do que eu e ela resolveu falar. Foi só isso”, disse.
Diplomatas consultados nesta quarta-feira (14) indicaram dois aspectos que podem explicar o incômodo da parte chinesa com o comentário de Janja. O primeiro é o rígido protocolo que rege as visitas de Estado na China, em que tudo ocorre sob estrita formalidade.
De acordo com pessoas que já interagiram nesses tipos de recepção, há pouco espaço para improvisação, e situações que fogem do previamente combinado são malvistas. O episódio ocorreu no jantar oficial oferecido a Lula por Xi, na residência oficial do líder chinês.
O segundo ponto é o fato de Janja, sem cargo oficial, ter interpelado Xi diretamente sobre um tema altamente sensível para Pequim. O popular aplicativo de compartilhamento de vídeos, com mais de 170 milhões de usuários nos Estados Unidos, está ameaçado por uma lei americana aprovada no ano passado que exige que o TikTok se separe de seu proprietário chinês ByteDance ou feche as operações nos EUA.
noticia por : UOL
