Trump x África do Sul: entenda a acusação de 'genocídio branco' e por que ela é rejeitada pelo governo sul-africano


Presidente da África do Sul foi recebido por Trump na Casa Branca, nesta quarta-feira (21). Durante o encontro, vídeos sobre supostos crimes contra brancos foram exibidos. Trump constrange presidente da África do Sul ao mostrar vídeos de suposto genocídio branco
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusa a África do Sul de promover um “genocídio branco” contra fazendeiros, em meio a uma reforma agrária que pretende corrigir a distribuição de terras no país. Nesta quarta-feira (21), Trump exibiu ao presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, vídeos que supostamente mostram crimes contra brancos no país.
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Desde o início do ano, Trump tem feito críticas públicas e adotado medidas contra o governo da África do Sul, o que resultou em uma crise diplomática entre os dois países. Não há indícios de genocídio promovido pelo governo sul-africano contra a população branca, como alega o presidente americano.
Em fevereiro, Trump anunciou o corte da assistência financeira à África do Sul, alegando que o governo local estava “confiscando terras” e que “certas classes de pessoas” estavam sendo tratadas “muito mal”.
No mês seguinte, o embaixador sul-africano nos EUA foi expulso do país, acusado de “explorar questões raciais”. À época, o secretário de Estado Marco Rubio compartilhou uma reportagem em que o embaixador teria dito que Trump lidera um movimento de supremacia branca.
Em 12 de maio, 59 brancos sul-africanos chegaram aos EUA com status de refugiados. Trump afirmou que todos eram vítimas de “discriminação racial”.
“Estão matando agricultores. Eles são brancos, mas, para mim, não faz diferença se são brancos ou negros”, declarou.
A ONG Human Rights Watch classificou a medida como uma distorção racial cruel, destacando que milhares de refugiados negros tiveram pedidos de asilo negados pelo governo americano.
A África do Sul nega qualquer perseguição a brancos e rejeita a alegação de que esse grupo seja alvo desproporcional de crimes. As taxas de homicídio no país são elevadas, e a grande maioria das vítimas é negra.
Durante o encontro desta quarta-feira, Ramaphosa afirmou que nunca tinha visto os vídeos exibidos pela equipe da Casa Branca e negou que exista genocídio no país.
“Gostaria de saber onde fica isso porque nunca vi esses vídeos.”
Após o encontro, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da África do Sul afirmou que não há “confisco de terras” no país.
Além disso, segundo o jornal “The New York Times”, outro porta-voz do governo afirmou que as acusações envolvendo “genocídio branco” podem ser resolvidas com uma investigação independente.
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O que Trump alega?
O presidente dos EUA, Donald Trump, mostra supostas reportagens sobre ‘genocídio branco’ na África do Sul enquanto se encontra com o presidente do país, Cyril Ramaphosa
REUTERS/Kevin Lamarque
Trump afirma que a África do Sul estaria perseguindo membros da comunidade afrikaner — um grupo formado por descendentes de holandeses, alemães e franceses que migraram para o país no século 17.
Atualmente, os afrikaners representam cerca de 4% da população sul-africana, ou aproximadamente 2,5 milhões de pessoas, em um país com mais de 60 milhões de habitantes.
Historicamente, os afrikaners lideraram o regime do apartheid, que institucionalizou a segregação racial até o início dos anos 1990. Apesar do fim do regime, os brancos ainda controlam uma parte significativa das terras agrícolas do país.
Recentemente, o governo aprovou uma lei para corrigir o desequilíbrio entre propriedades no país. Dados apontam que os brancos possuem três quartos das terras agrícolas de propriedade plena da África do Sul. Por outro lado, os negros dominam apenas 4% dessas áreas, mesmo sendo mais de 80% da população.
O bilionário Elon Musk, nascido na África do Sul e aliado de Trump, declarou que os sul-africanos brancos têm sido vítimas de “leis racistas de propriedade”.
Qual a realidade do país?
Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, durante sessão do Fórum Econômico Mundial da África na Cidade do Cabo em 5 de setembro
Sumaya Hisham/Reuters
O governo da África do Sul nega que esteja promovendo um genocídio branco. Nem mesmo o partido que representa os afrikaners e a comunidade branca do país afirmam que crimes do tipo estejam acontecendo.
Segundo a BBC, informações falsas sobre genocídio branco na África do Sul circulam entre grupos de direita há muitos anos, inclusive durante o primeiro mandato de Trump, entre 2017 e 2021.
Em fevereiro deste ano, um juiz sul-africano também afirmou, em uma decisão, que não há genocídio no país.
A BBC afirma ainda que estatísticas mais recentes sobre violência na África do Sul apontam que 6.953 pessoas foram assassinadas no país entre outubro e dezembro de 2024. Desse total, 12 foram mortas em ataques a fazendas, sendo que apenas uma das vítimas era um fazendeiro.
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Fonte: G1

quinta-feira, 22, maio , 2025 09:12
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